terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Milagres

5 meses. Hoje. Lapa. Sabe quando ta aquele barulho lá fora e dentro de você só o silêncio? Nada de notícias, nem uma palavra que justificasse a sua ausência. Dor. Amor. Saudade. O silêncio lá fora e o barulho dentro de mim, várias idéias, vários porquês, em buscas de respostas que justificasse aquela ausência. O telefone toca, 2:30 da manhã, a voz do outro lado pede desculpas por não estar ali. Tem casos que desculpas não são suficientes sabe? Porque senão vira costume, errar e pedir desculpas, então vira costume também desculpar. Eu não queria desculpas, eu queria presença, abraço, cheiro, beijo, carne, sexo. Um longo abraço sob a lua que assistia toda a cena, todo o sofrimento, tanto meu embaixo dos arcos da lapa, quanto o dele embaixo-de-qualquer-lugar-da-cidade, qualquer lugar bem longe dos arcos. 5 meses a espera de um encontro que não se concretizou. Axé, Odoiá, Maria Bethania, Chico Buarque. Os bêbados da mesa vizinha cantavam Clara Nunes. Na mesa conversávamos sobre a Rita Ribeiro, e em meio as cervejas, a magoas, a alegrias, a posição de cada um sobre a legalização do aborto, cantávamos meio embriagados. Cantava e dentro de mim chorava, lembrando daquele trecho em que o Caio Fernando fala que dói mais perder quem está vivo do que perder quem morreu, porque já que está vivo poderia estar junto, e o fim do amor é NEVER, algo assim, não lembro a ordem das palavras, não lembro nem a ordem de mim mesma. Ele ainda está do outro lado da linha, o silencio, o barulho, o amor, a desculpa, o never. Não dá, não mais. Desejo felicidades, naquele momento esse era um pseudo desejo, não queria a felicidade, não a plena felicidade, pois essa felicidade plena ele só teria comigo, era pra ser assim, esse era o plano. Mas é bom desejar felicidades pra outra pessoa quando se acaba, parece que somos superiores e que superamos, mesmo não sendo verdade, nunca é verdade, não no momento seguinte ao termino, ali ainda estamos com a mágoa, com o barulho no peito. A ligação cai, a lagrima também, a lua ainda ali, assistindo a gringa tentando sambar sem o gingado, os bêbados que dessa vez cantavam outra coisa qualquer que pedia a legalização da maconha, o garçom na mesa avisando que o bar ia fechar, a lagrima que caia junto com a ligação, a separação. O never, o nunca, o adeus.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

DeCoração

- Alo?
- Oi!
- Desculpa pelo estresse de ontem, precisava muito de ti. Precisava de mim inteira, da minha parte que tá em ti.
- Não dá, não posso te devolver o que é teu, que está em mim.
- Só somos uma quando estamos juntas...
- Tô namorando...
- Eu não fico chateada, você deve ter um por que. So queria que você me provasse que eu tava errada, ainda amo você, pena que esse amor tá se transformando em outra coisa.
- Não tenho um porque, só estou, me envolvi e estou. E é isso que me dói, você não estar chateada, eu vejo que esta cada vez indo embora um pedaço.
- Está, e é você quem tá levando eles embora.
- Eu to indo com eles também.
- Amanhã a gente se fala. Não tenho mais como continuar essa conversa, vou fumar um cigarro. Sabe, assisti uma apresentação que a personagem falava que sentia vontade de matar uma mulher, mas as mulheres não morrem, mas que ela queria matar, de faca, de revolver, de coração, mas não adiantaria, elas não morrem, nunca! Vontade de fumar dez cigarros, todos de uma vez. Noite!

domingo, 28 de março de 2010

Um dia de Outubro

Pela janela gradeada via a chuva, ou melhor, o calor era tanto, que sentia a chuva, que parecia chorar em coro com ela, ela chorava já nem sabia mais porque, era uma mistura de sentimentos, de vontades, de pessoas. Sempre fez do amor uma imagem totalmente diferente daquele amor que vivia, vai ver que é porque amor não é pra ser imaginado, mas sim sentido, vivenciado. E ela vivenciava um amor a algum tempo, na verdade a muito tempo, e junto com o amor ela também vivenciava ou outros sentimentos que vinham acoplados a ele. Ela vivia a tristeza da dúvida-que-abalava-a-sua-certeza. É muito cruel pra uma pessoa amar a quem tem dúvidas, a quem diz sempre um 'mas' seguido de toda frase. Ela não queria um eu te amo, mas... Ela queria um eu te amo, ponto. É muito estranho, porque ela era uma daquelas meninas que fazia uma imensa projeção do amor, do ser que seria amado, queria que ele gostasse de Chico, Caetano, Gal, que lesse Clarice ou Caio Fernando, que não fumasse e bebesse no máximo socialmente. Mas bastou um olhar, um sorriso, pra ela esquecer da sua receita-de-amor-perfeito, naquele instante a projeção dava lugar ao coração, acabara de sentir o amor.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Um sábado

Às vezes eu penso em afastá-la com um gesto bem rude, para que ela não pense mais em uma possível reaproximação. Eu a amo, mas o meu amor não é um amor saudável, é aquele amor cruel, que machuca tanto a quem tá sendo amado quanto a quem ama. Não sei, de alguma forma, esse fazer-sofrer era necessário, necessário também não sei para que, mas era. Era um daqueles defeitos que não podia ser cortado, como já dizia Clarice, porque senão o edifício inteiro desabava, e o meu edifício era sustentado por aquele defeito, aquele defeito de-afastar-as-pessoas-da-forma-mais-cruel-possível. E eu a queria perto de mim, sempre; então com uma neurótica individualidade eu iria feri-la, então por ela, por mim, por nós, pelo amor, eu teria que aprender uma forma sutil de afastá-la, porque não estava nos meus planos desabar nenhum edifício.

[desculpa]


Sentimentos

Sempre te amei, na verdade acho que me acomodei em te amar, sabe quando a gente faz de tudo, põe defeitos nas novas pessoas que estão aparecendo só para o amor que sentimos não sumir? Pois é, eu colocava defeito em todas, não queria deixar de te amar, mas ai apareceu uma pessoa que me tocou profundamente, e eu senti medo – o que sentia por ti já estava se modificando, sumindo – e percebi que só deixamos de amar uma pessoa quando somos tocados profundamente por outra.